Pretende-se, com esta proposta de investigação, discutir as influências das metodologias de reabilitação em património edificado, manifestas nas intervenções dos arquitectos Carlo Scarpa e David Chipperfield, na produção prática e teórica arquitectónica portuguesa, no período pós Segunda Guerra Mundial.
A problemática baseia-se no grande valor didático da ruína para o arquitecto, projectando-se nas estratégias de intervenção. Estas estratégias implicam compromissos que passam pela leitura e interpretação da sobreposição das camadas temporais, registos da história de um edifício que começou por existir no passado e se pretende transportar para o presente.
O debate sobre as opções metodológicas de reabilitação, de ruptura ou continuidade, desempenha um papel fulcral para a clarificação do significado do objecto reabilitado na contemporaneidade.
As intervenções de reabilitação levadas a cabo pelo arquitecto Carlo Scarpa (das quais são exemplo o Museu do Palácio Abatellis e o Museu do Castelvecchio), e pelo arquitecto David Chipperfield (da qual é exemplo o Museu Neues), demonstram a capacidade de um edifício vencer o desafio do tempo e fazer, vetustamente, perdurar as opções formais de uma interpretação feita dos fragmentos temporais pré-existentes. Estas soluções metodológicas singulares são de grande interesse para o estudo dos processos de reabilitação.
No caso português, a prática da reabilitação começa a definir-se com o pós-guerra. Importa traçar as repercussões que estes dois autores referência (estrangeiros) tiveram nas intervenções práticas e teóricas dos arquitectos nacionais, no período compreendido entre o fim da Segunda Guerra Mundial e a contemporaneidade.
Esta investigação pretende, acima de tudo, acrescentar conhecimento relevante para a análise e compreensão das práticas de intervenção de reabilitação sobre o património português.
Compreender de onde viemos é imprescindível para compreender para onde vamos. Por isso mesmo é imprescindível que seja prevista, também, uma discussão sobre as repercussões que a evolução das metodologias projectuais, no contexto do edificado em ruína ou em estado avançado de degradação, podem sofrer no presente e no futuro da prática arquitectónica em Portugal.